Friday, May 05, 2006

Irmãos de Sangue

Na vida, fomos almas consagradas,
Uma só força em dois corpos iguais.
Fomos um só, irmãos espirituais,
Divina ligação de almas sagradas.

Num mundo de almas amaldiçoadas,
Fomos eco das vozes celestiais.
Fomos a luz das almas imortais,
A pureza e a paz abençoadas.

Fomos o amor, a eterna majestade,
A perfeição da pura eternidade,
Um raio de luz na noite perdida.

E hoje que o nosso tempo acabou,
Somos, no mundo que nos condenou,
Irmãos na morte, tal como na vida!

Último Sacrifício

De joelhos no chão, rosto escondido,
Olhos cerrados de intensa agonia,
Um vulto negro na luz fugidia
Lamenta a sua vida sem sentido.

Expressão sombria, voz de anjo caído,
Alma sem sonho, amor ou fantasia,
Aguarda o cair da noite vazia,
Vida vencida num mundo perdido.

Ergue o olhar aos céus, no gesto cego
De quem jamais teve algum aconchego
E grita para os céus celestiais:

“Aceita, Deus, este último tributo!
Tu, que me deste uma vida de luto,
Recebe agora os meus gritos finais!”

Antes do Amanhecer

Na noite eterna de um mundo vazio,
Em pesadelos de agonia e dor,
Vagueia a minha mente, em vão furor,
Lutando contra a dor e contra o frio.

Dor infinita... A vida por um fio...
Gritos, gemidos, lágrimas, horror...
Morte eterna... Medo devastador...
Orações mudas para um céu vazio...

Tortura eterna de um sono maldito,
Perdido por entre um espaço infinito
De sofrimento e sonhos sem sentido.

Acalma o teu temor, alma perdida,
Porque prometo hoje que a tua vida
Antes do amanhecer terá partido!

Canto de Amor Perdido

Caminhante de penumbra e de treva,
Para onde vais? Perdido em pensamento...
Quem choras, neste antro de desalento?
Quem és? Que imensa dor em ti se eleva!

Quero saber quem és! Talvez não deva...
Tortura-me a dor do teu sentimento!
És jovem, ainda! A vida é um momento!
Quem lamentas, nos túmulos de treva?

“Amada – dizes – porque me deixaste?
Que força te levou a que saltasses
Para o nada em que te despedaçaste?”

Então, vejo em mim preso o teu olhar
E sinto que, por muito que implorasses,
Força alguma me faria voltar!

Luz do Mundo

Senhor, sei que me esqueci que existias,
Que fingi desconhecer a tua vida.
Sei que te abandonei, cega e vencida,
Quando eras tu a esperança de meus dias.

Escolhi caminhos vãos, falsas magias.
Longe de ti, deixei-me ser perdida.
Afastei-me da tua luz querida
Em troca de ilusórias fantasias.

Deixei-me vencer e dei-me ao profundo.
Afastei-me de ti, luz do meu mundo
E abandonei-me ao nada sem sentido.

Senhor, sei que me mantive afastada,
Mas peço-te, hoje: salva-me do Nada!
Toma de volta o teu anjo caído!

Dorme...

Na aurora da tua vida, destroçado
Em sofrimento e dor... e nada mais,
Dorme, meu anjo, nas horas fatais
Que te derrubaram, abandonado.

Caído da inocência, amaldiçoado
Por crimes de outros tempos ancestrais,
Dorme, meu filho... Não... Não sofras mais.
Mais um momento e terá terminado.

Vencido por uma vida sem dono,
Destruído e condenado ao abandono,
Dorme, meu anjo, na noite inclemente.

Fecha os olhos e o céu estará contigo!
Acalma a tua dor, meu querido amigo
E dorme em meus braços, eternamente!

Era Uma Vez...

Era uma vez, num antigo momento,
A beleza de um sonho que foi meu.
Brilhava, como a luz de um sentimento.
Sorria, até que a beleza morreu.

Era uma vez um belo pensamento,
Beleza eterna de um eterno céu.
Voava, livre, nas asas do vento.
Sonhava, até que o sonho se perdeu.

Era uma vez um espírito inocente,
Brilhante na beleza da sua mente,
Bela, até que a sua mágoa apareceu.

Era uma vez... Morreu hoje a inocência!
Pois, na mágoa e na dor da consciência,
Caiu ferido o anjo que era eu!

Auto-retrato

Alma sombria, triste e misteriosa,
Entre pequenos rasgos de loucura.
Por vezes maldita, por vezes pura...
Reflexo de uma vida tenebrosa.

Sorriso triste de alma pesarosa.
Olhar doce de infinita ternura.
Às vezes certa, às vezes insegura...
Imagem de uma dor silenciosa.

Olhar perdido entre a melancolia
Dos sonhos, da vida e da fantasia...
Expressão de um anjo caído do céu.

Reflexo triste do eterno abandono,
Como folha caída de um Outono...
Eis o quadro daquilo que sou eu!

Prece Macabra

Mostra-me os sonhos da vida apagada,
Deus negro de toda a esperança perdida.
Faz-me sentir minha alma abandonada
E reviver a dor de ser esquecida.

Tortura-me com a imagem destroçada
De toda uma existência destruída.
Mostra-me o horror da vida inacabada
Onde a miséria me deixou vencida.

Faz-me sentir de novo angustiada,
Pelo decorrer dos dias torturada
E em sofrimento eterno enlouquecida.

Torna-me cega ao mundo, amaldiçoada
Pela dor, e pelo ódio derrotada,
E, depois, põe um fim à minha vida!

Abismo

Vazio imenso de um sonho vencido,
Olho para além da tua eternidade,
Promessa de esquecimento e vontade,
Fim dos tempos de um sonho destruído.

Observo os teus confins onde, perdido,
Vagueia o espírito da minha idade.
No teu eco, sereno e sem maldade,
O meu nome é mil vezes repetido.

Abismo eterno, aceita-me em teus braços!
Quebra na tua sombra os negros laços
Que me prendem, e deixa-me fugir!

Porque toda a minha existência é negra,
Mas, mesmo assim, esta vida não quebra!
Abismo eterno, deixa-me cair!

Rosa

Flor do silêncio, espelho da coragem,
Alma serena na noite da vida,
Sorri para o mundo, mesmo se, perdida,
Não vês nada senão uma miragem.

Flor da vida, da mais perfeita imagem,
Reflexo de uma esperança destruída,
Ama a liberdade, mesmo vencida,
Mesmo que os sonhos estejam de passagem.

Flor da memória, imagem do futuro,
Mesmo que vivas caída no escuro,
Mantém a esperança de um dia melhor.

Ergue-te da noite, para a nova luz!
O tempo apagará a tua cruz!
A vida apagará o teu amor...

Súplica

De onde me vês, caída e miserável,
Podes olhar e não sentir piedade?
Condenada para além da eternidade,
A um mundo de miséria interminável.

Podes permanecer inabalável
Perante tão grande acto de maldade?
Abandonada à minha insanidade,
Perdida numa dor insuportável.

Como podes ser surdo ao meu lamento,
Súplica de dor e de desalento?
Como consegues ser tão inclemente?

Olha para mim! Olha a minha agonia!
Olhando a minha dor a cada dia,
Deus! Podes permanecer indiferente?

Ars Moriendi

Rasga os canais que me mantêm erguida,
E flui, vida, para fora do meu ser!
Cai no nada em que me quero perder
E vence minha esperança destruída!

Mostra ao mundo o que é viver esquecida
No abismo da vontade de morrer!
Sai de mim, força que me fez mover
E põe, enfim, um fim à minha vida!

Rasga de mim cada ínfima estrutura
E faz com que eu caia na noite escura
Do abismo de uma alma que não sente.

Faz-me cair e aplaude o meu destino!
Anuncia ao mundo aquilo que ensino:
Permanece para sempre inconsciente!

Sirius

Pela eterna adversidade da vida,
Apagou-se o teu brilho de alegria.
Esvaiu-se em noite a tua luz esquecida.
Em mágoa se extinguiu tua magia.

Viveste sempre uma luta sombria,
Aprisionado, sem culpa, sem vida.
Perdeste-te numa luta vazia,
Por quem a tua força foi vencida.

Perdido numa vida fria e nua,
Numa guerra eterna que não é tua,
Crês que os sonhos pertencem ao passado.

Mas os teus olhos brilham de saudade,
Recordando a tua antiga liberdade,
Perdida, para sempre, sem pecado!

Enlouqueceste?

Com que serenidade me anuncias
Os sentimentos que vivem em ti!
Dizes que vives os melhores dos dias,
Que amas, finalmente, alguém aqui.

Enlouqueceste? Ainda não esqueci
As palavras amargas que dizias,
As lágrimas, que tanta vez colhi,
A derrota das tuas fantasias.

Dizes que desta vez será diferente,
Que o amor viverá eternamente,
Que ele é o anjo que sempre quiseste.

Pois digo-te eu que, se, neste momento,
Crês na ilusão desse teu sentimento,
É certo que, em verdade, enlouqueceste!

Messias Arrependido

Olhos cerrados numa muda prece,
Braços abertos para o infinito...
Caído em terra, onde a vida se esquece,
Lábios cerrados, prendendo seu grito.

Lágrimas enchem seu rosto contrito.
No seu coração, a agonia cresce.
Em si, tomou tudo o que era maldito,
Mas é sempre de dor a sua prece.

Por séculos e séculos nascido,
Viveu para redimir o pecado
E por ele morreu, na dor calada.

A agonia é demais! Arrependido,
Vive a sua revolta, abandonado
Numa missão para sempre falhada!

Errado

Quando me escondi do mundo magoado
Em que vivias, chamando por mim,
Quando fugi para o nada sem fim,
Deixando-te ficar abandonado.

Quando te deixei, triste e destroçado,
Gritando o meu nome, em ânsias sem fim,
Abri os olhos e entendi, enfim,
Que todo o meu projecto estava errado.

Quando te deixei por uma quimera
E, a teus olhos, me esqueci de quem era
Os meus passos levavam-me para o Nada.

Mas, hoje, que a tua dor me iluminou
E, do mal que fiz, vi o que ficou,
Sei: toda a minha vida foi errada!

Vencidos da Vida

Profundo, eterno, meu anjo vencido,
No teu olhar encontro a minha dor.
Fomos vencidos, em nome do amor,
Por um desejo maior destruído.

Sereno e doce, meu anjo caído,
Memória antiga de um sonho maior,
Ardo na chama de um sonho sem cor,
Sonho do teu paraíso perdido.

Anjo caído, memória perdida,
Não somos mais que vencidos da vida,
Sonhos sem dono, corações partidos.

Eu, sonhos mortos... Tu, asas quebradas!
Sejamos, entre ilusões derrotadas,
A última memória dos caídos!

Cobardia

A olhar nos meus olhos, disseste, um dia,
Com voz serena de total certeza,
Que, por mais forte que fosse a tristeza,
Pôr fim à vida era uma cobardia.

Disseste que, por mais que a noite fria
Me envolvesse num manto de incerteza,
Seria um acto de imensa fraqueza
Não enfrentar a dor que me angustia.

A olhar para mim, com um sorriso triste,
Disseste que a felicidade existe,
Escondida no mais profundo de mim.

Mas, sozinha na vida que me deste,
Vejo que estava errado o que disseste!
Cobardia foi não chegar ao fim!

Profecia

Um dia há-de vir em que o teu pecado
Te pesará demais para suportares,
E pedirás àqueles que encontrares
Perdão para a escuridão do teu passado.

Um dia há-de vir em que, abandonado,
Enlouquecido pelos teus pesares,
Pedirás ao deus em que acreditares
Que volte a redimir o teu pecado.

Um dia há-de vir em que a tua loucura
Se converterá na maior tortura
E implorarás um segundo de bem.

Mas ouve! Eu sou a voz dos torturados
E, por quantos deixaste abandonados,
Te garanto: não haverá ninguém!

In Memoriam...

Hoje, o mundo contempla a tua glória,
Observando o auge do teu esplendor.
Por ti, toda a vida hoje sente amor,
E celebra, alegre, a tua memória.

Hoje, o mundo reconhece a tua história,
Aclama-te e adora-te em furor.
Mas quantos deles viram quanta dor
Te custou a tua breve vitória?

Hoje, os homens celebram a alegria,
A memória da tua fantasia,
Mas saberão que demónios te assaltam?

Senhora eterna entre os anjos caídos,
Hoje se erguem teus sonhos destruídos.
Mas onde estão aqueles que te faltam?