Friday, October 30, 2009

As Rosas do Vampiro

Seduz-me
E dilacera as trevas por dentro do mais negro eu
Como no grito de um nómada,
Espinho destilado em pétalas de rosa
Que ecoassem por dentro dos labirintos ancestrais.

Enrosca-se por entre os recessos da minha pele
Como serpente dourada
Plantando esferas na esfinge de um olhar
Gravado a diamante
E adormecido nos caninos do crepúsculo
Como uma asa de anjo em combustão.

Tomba na luz,
Um véu dentro do céu dentro de mim,
Estendendo mastros ao mar do eterno renascimento
Num matrimónio imortal,
Adoração de sinfonias secretas
Plantadas em diáfanos caules de olhares fugitivos
Repousando nos braços do trono do deus.

Embala-me
E a podridão dos sentidos dispersa em rosas de sangue,
Veludo de nós entretecidos em gestos de corvo,
Alimentados de mim.

Saturday, October 17, 2009

Borboleta de Cristal

Sei que não sou ninguém
E que o silêncio que paira nas asas da minha missão
É somente um fragmento de vidro no diáfano
Que contempla as cintilações do ser.

Crisálida dispersa no coração de um crepúsculo estéril,
Sei que sou feita de nada e de vazio
E o rubro cristal que alimenta os meus olhos
Com o gesto das marés que fustigam a minha costa
Não é mais que o farfalhar das folhas sob o meu torso
De borboleta mutilada.

Sei que não tenho brasão
E que o meu estandarte é o eco do sonho sepultado
Por dentro dos labirintos do corvo
E a mão que me abraça é também o amplexo da névoa
Que me estrangula em dedos de penumbra.

Sei que não sou ninguém…
Mas tenho em mim a trindade dos anjos exilados,
A malícia que desabrocha no olhar dos condenados
E o conflito da renúncia a uma nobreza morta
Para me abrir os portões da última muralha
E entrar num grito aos céus do infinito
Pela estrada da morte que se enrosca nos meus braços.

Wednesday, October 07, 2009

Os Violinos do Absurdo

Como um traço de sinfonia,
Uma miragem pairando sobre o vazio
Entre marés de cor,
Estendem-se os braços da arcada suprema
E a catedral dos corpos é o instrumento
Do desvanecido absurdo dos abismos.

Como dedos de bruma pisando as cordas do absurdo,
Erguem-se do caldeirão dos mistérios
Os efémeros fumos de um etéreo toque,
Tacteando quimeras entre as paredes do vácuo
Como um cego procurando a espada da escuridão.

Solta-se de um lamento na contemplação do adeus
Uma nota arrancada em convulsão
Ao corpo da madeira que modela a sinfonia
Em melodias de contemplação
E o sussurro do real invade as mãos do fantástico
Como uma essência cantando louvores de crepúsculo
A um beijo que desfalece nas aras mistificadas
De um violino que goteja as lágrimas exiladas.