Friday, May 25, 2012

Resignação


Venho trazer-te o que é meu.

Um violino onde a noite chora em cordas de diamante
Planando sobre as arcadas de um profeta enlutado
E um corvo que em silêncio fita as chamas devoradoras
Dançando sobre as palavras que semeou sobre o papel.

As portas do sangue ao corpo e à morte em mim.

Venho estender no teu altar a toalha da minha pele
Mutilada pelos cinzentos da resignação total
De quem morre sob a sombra de uma rosa apodrecida
Que foi verso abençoado por todas as cortes do céu
Mas que morre entre as miragens de um olhar exilado.

E o cântico à cruz onde dormem os meus braços
Sangra dentro de mim como um gotejar de labirintos
Por onde o sonho se esvai em carrilhões de loucura
Traçados sobre a canção da pomba sacrificada.

Venho deixar-te o que fui.

Para que encontres no cadáver da entidade que voou
O eco dos espelhos mortos na cintilação do absurdo
E o sonho desvanecido em pétalas de renúncia
Onde as lâminas compõem o macabro da sinfonia
Que se estende ao compasso no final das minhas veias.

Fechados os olhos da esperança à morte do ideal.

Friday, May 18, 2012

Dispersão


Passei,
Qual etéreo murmúrio de tempos áureos
Irremissivelmente mortos,
Fantasma entre sombras de um mundo ausente,
Ilusão de inalcançável esplendor.
Fui mais uma entre os errantes da vida,
Uma outra vagabunda do meu sonho,
Sem abrigo nas ruas da saudade.
Vivi como uma névoa dispersa
Numa manhã mergulhada em brumas,
Como um sopro de vento tempestuoso
Tocando o corpo da rocha insensível.
Andei por entre sendas de tristeza
E nem a natureza me sentiu,
Mas, no final,
Ferida, triste e cansada,
Fechei os olhos ao mundo em redor
Para olhar o nada
E dispersar na morte a minha dor.

Friday, May 04, 2012

Grito


Porque te escondes?
A tua alma sangra de dor e de amargura
E as tuas próprias lágrimas são de sangue,
Mas, ainda assim, tua máscara indiferente
É tudo o que permites que o mundo veja,
Mero vislumbre de algo que não és,
Falso espectro do mundo que tu vês.
Porque não gritas?
Se a tua revolta clama por vingança
E a tua alma destruída anseia pela morte…
Pára de fingir
Que és a rocha que o mundo conhece,
Quando o teu espírito estremece
Ante a memória da dor.
Grita!
Deixa que vejam o que te fizeram,
A torre de agonia que, dentro de ti, ergueram,
O coração quebrado, ferido e torturado
Que se fez sádico
Para não sentir a memória do amor…