Friday, January 04, 2013

Infamous Last Words


Diz-lhes que não há mais nada,
Que acabou,
Que já não há coração para salvar.
Que o sangue fugiu em lágrimas pelo chão
E eu também,
Com palavras rasgadas no peito e a pele
Rasgada pelas mesmas palavras.

Diz-lhes que já não há séculos suficientes para viver
Quando a memória não morre
E que os olhos que viram a aurora dos milagres
Fenecem, agora,
A cada amanhecer um pouco mais.
Diz
Que a coragem não tem mais que estertores
Para o fardo de demasiados anos
Pousados sobre mim cedo demais.

Diz-lhes que já não há
Nem esperança nem essência nem futuro
Nem vontade de o erguer
Dos destroços de uma muralha perdida,
Que a vida já não corre
Nestas veias transidas de medo e de memória,
Tão secas como eu.

Mas não… Não vale a pena. Não digas
Nada,
Que nada é quanto escorre destas palavras
Sem sentido nas frases para criar.
Que as horas, essas
Infinitas, as eternas, todas as horas
Hão-de passar também sobre o meu rosto
E até ele há-de ser nada no final.
Para quê? Se os tempos correm abraçados
À mesma sombra sempre repetida
E as lágrimas podem ser para sempre novas,
Mas têm os mesmos núcleos,
Iguais.

Não digas… Diz-lhes só que a sombra passa
E o passado
Fica pintado nos meus passos.
O resto, eles que o vejam, se puderem, se
Tiverem ainda olhos sobre o nada
Que somos todos.