Wednesday, March 20, 2013

Fiel


Só tu poderás dormir sobre a minha tumba
Quando eu partir
E o vento fustigar a lápide que me cobre
Gemendo imitações de som.
De sons, dos meus passos
Sobre a terra húmida da aldeia serena
E do teu saltar a quatro patas a meu lado,
Como se estivesses ainda
De olhar expectante no meu olhar perdido
E não enroscado no mármore frio,
Também à espera do fim.

Só tu, quando os que passam te encontrarem
E acariciarem com mãos indiferentes
O teu manto gelado, como eu,
Poderás falar de abismos que me engoliram
E te deixaram para trás,
Negro também, na alma e no coração,
À espera de um eu que não pode
Regressar.

Só tu serás, então, o meu profeta,
Para lhes lembrar que serão como eu
E que o tempo passará, também, quando partires
Para o abrir de meus braços na escuridão.
Talvez, então, uma lágrima te embale
E lave a pedra do derradeiro adeus,
E, em ti, fiel a mim,
Fiel a nós,
Eles consigam ver outra verdade, outra
Vida
A pulsar nos seus corações de pedra.

Só tu
Serás o meu uivo de pena.
Só eu serei
O teu grito
De amor.