Venho trazer-te o que é meu.
Um violino onde a noite chora em cordas de diamante
Planando sobre as arcadas de um profeta enlutado
E um corvo que em silêncio fita as chamas devoradoras
Dançando sobre as palavras que semeou sobre o papel.
As portas do sangue ao corpo e à morte em mim.
Venho estender no teu altar a toalha da minha pele
Mutilada pelos cinzentos da resignação total
De quem morre sob a sombra de uma rosa apodrecida
Que foi verso abençoado por todas as cortes do céu
Mas que morre entre as miragens de um olhar exilado.
E o cântico à cruz onde dormem os meus braços
Sangra dentro de mim como um gotejar de labirintos
Por onde o sonho se esvai em carrilhões de loucura
Traçados sobre a canção da pomba sacrificada.
Venho deixar-te o que fui.
Para que encontres no cadáver da entidade que voou
O eco dos espelhos mortos na cintilação do absurdo
E o sonho desvanecido em pétalas de renúncia
Onde as lâminas compõem o macabro da sinfonia
Que se estende ao compasso no final das minhas veias.
Fechados os olhos da esperança à morte do ideal.