Thursday, June 14, 2012

Ao Silêncio da Ideia


Na hora em que todas as vozes se calaram
Na pulsação da musa sob o sangue
E os gritos da história que queria ser contada,
Nem que apenas por mágoa, apenas
Por fé,
Surgiram vãos no abismo da procura
A que só o silêncio respondeu…

Quando o sussurro do sonho puxou das armas
Por encontrar à espera as batalhas
Em nome de cada palavra pronunciada,
Quando a razão era de mãos apertadas na garganta
Das aspirações secretas,
Estranguladas sob a opressão das palavras
De carrascos, de juízes, de carcereiros
Sentados à espera de uma alma que pudessem
Arruinar.

Quando, mortas, as ânsias do imaginário
Deram lugar a um tremor no vazio
E a criação se fez fardo na essência do criador
Temente à sombra e à mágoa e ao exílio e ao despertar,
Quando uma voz sussurrante encheu as cavernas
Da imensa ausência de um cárcere interior
- Não era isto o que querias para o teu sonho… -
E a noite imensa era treva igual ao dia
E a eternidade a mesma saga repetida.

Na hora em que os teus dedos se quedaram
Sobre o papel manchado do teu sangue
E das lágrimas vagas da tua alma,
Quando o silêncio tomou posse do trono
Que a soberana musa destronada
Deixou ao vácuo que sobrou de ti.

2 comments:

Filipe Campos Melo said...

A tua poesia tem sempre as características que distinguem, em excelência, dos versos "OS versos"

A profundidade do que se diz
O modo como se conta
A escolha cuidada das palavras
A construção de imagens impressivas e cativantes
E a fluidez, quase natural, do todo
(permitindo uma leitura progressivamente interessada)

Como por exemplo, em

"Quando, mortas, as ânsias do imaginário
Deram lugar a um tremor no vazio
E a criação se fez fardo na essência do criador"

(sublimes e poderosos estes versos)


É um privilégio ler-te
Tua escrita merece a maior atenção

Bjo.

Anabela said...

Escrita tremendamente poderosa.
Muitos parabéns.

Obrigada.