Tuesday, January 24, 2012

Defesa

Olha. Bem sei que pensas
Que nos teus braços repousa o leito da perfeição,
Que és a única voz digna do espanto dos povos
E que trazes nas palavras a dignificação do ser.
Sei que queres ser o látego dos miseráveis,
Apagar da face da terra quem ousou viver o sonho,
Mas que, por ecos ou obras delirantes,
Vê bem onde tu vês insanidade.

Eu sei que outras palavras te repugnam,
Que ofensas plantaste para as destruir.
Vi cair mais que os que tu poderias
Conter na torrente do teu julgamento.

Olha! Eu sou a defesa dos vencidos,
Do sonho que mataste com a tua palavra
E acuso a tua sombra!

Serei a redenção dos que quebraste,
Abrigo para a magia que mutilaste,
Protectorado dos sonhos sem voz.
E tu?
Continua, se queres, a destilar amargura
Na sombra das lições primordiais,
A lançar ofensas sobre os vencidos
Como se fosses o mestre supremo.

Tu não sabes…
Nem todos querem a imortalidade.
Apenas alguns momentos de luz…

Monday, January 09, 2012

Sangue de Oráculo

Esta é a hora
Onde os silêncios se incendeiam
E a profecia proclama entre cinzas e quimeras
O nome dos que morreram entre nós.

Herança
No palpitar do fogo que consome
A aurora dos oráculos distantes
Que foram ancestrais de cada imagem
E progénie das almas
Que florescem ainda em cada traço
Da palavra.

A nossa voz,
O espelho que estrangula o sopro da renúncia
E o pensamento
Nas marés que levaram para o abismo
O turbilhão do tempo.

O adeus, por fim,
À pena erguida em louvor à memória
E o estilhaçar de todos os destinos
No grito do melhor que se perdeu.

Thursday, January 05, 2012

Instantâneo

Hoje é o dia em que não és
Nem estrada em gotas de espelho construída
Nem altar de momentos erguidos ao canto da espera,
Da esfera que dorme escondida no véu do regresso,
Do tempo que dorme no olhar que és dentro do céu.

Nem barco rasgando mares de sangue derramado
Ou veludos de teias ancestrais,
Efémero ritual traçado no soberbo grito
Do orgulho vão sobre a coroa que não tens.
Nem mesmo a razão te assiste
Quando olhas de mais além que o trono que não te pertence
Para crucificar as asas dos inocentes
Que ousaram um sonho para lá do teu comando.

Este é o grito do teu último instante,
O eco da soturna imensidade que rodeia
A funesta criatura que consumiu esses laços de inocência.
Também sonhaste um dia,
Mas não sabes que a execução das horas desse mundo,
Do teu reino de cérebros pululantes
Não sabe de coração nem de alma humana
E é vazio…

Hoje é o dia em que não és…

E só o nada que o absurdo petrificou
Para lá de uma voz cortante, um véu castrante,
Um deserto de vácuo… como tu.