Friday, September 07, 2012

Lições do Olhar


Nasceu contemplando a espera dos abismos na distância
E o sal dormia-lhe nas veias como um mar.
Tinha nas mãos as manchas da negrura interior
Que lhe repousava nas catacumbas da alma
E a distância sentida na pele dos sonhos que fugiam
No manto da eterna nulidade.

Cresceu de olhos abertos ao vácuo da extinção
Que a preenchia em profecias
E os passos deixaram marcas na lama que amordaçava
O canto que sufocava na solidão.

Viveu com um olhar absorto sobre as palavras do vento
E da água do mar que a convocava
Aos altares do espectro cavernoso
Cujas mãos lhe tocavam elegias no cabelo
E deixavam para trás um suspiro de saudade
Tão ténue como o crepúsculo dos cânticos mudos.

Morreu, por fim, e os olhos ainda fitavam
O deserto dos céus por sobre a vida.