Friday, September 28, 2007

Abismo

Por todos aqueles que julgaste incapazes de te trair,
Por aqueles a quem te entregaste sem resistir,
Pelos sonhos que abandonaste em nome da amizade,
Pela inútil esperança de fidelidade,
Por toda a devoção que dedicaste a almas vãs,
Pelos sonhos vencidos de mil amanhãs,
Por todas as memórias que deixaste por contar,
Pela paz que recusaste sem hesitar,
Pelas mãos onde a tua vida perdeu o sentido,
Pelo espectro banal do teu mundo perdido,
Pelo mundo que te viu sofrer, indiferente,
Pela amizade que jurou viver eternamente,
Por tudo o que amaste, apenas para perder,
Por tudo o que deste, para não receber,
Por todos os sonhos que ficaram por viver,
Esquece quem és e o mundo que falhou,
Olha o abismo onde tudo terminou,
Fecha os olhos, mergulha…
E deixa-te morrer.

Homens

Filhos da vida fria e derrotada,
Homens de pedra, ausentes e distantes,
Eu sou a voz do inalcançável nada
Que se esconde na sombra dos instantes.

Sou eco dos murmúrios inconstantes
Que se perdem na noite abandonada,
Onde os sonhos noutro tempo brilhantes
Quebram nas cinzas da noite magoada.

Homens cruéis, de sombra e noite escura
É feita a casa da eterna amargura
A que me condenou a vossa mão.

Mas um tempo há-de vir em que o vazio
Do vosso universo sinistro e frio
Há-de implorar pela voz do meu perdão!

Lua de Sangue

Chora na bruma o céu da noite escura,
Sinistro eco de um sonho sem lugar,
E, perdido nas ruas da amargura,
Caminha um anjo que não sabe amar.

Alma quebrada, incapaz de voltar,
Vagueia nos silêncios da loucura.
O mundo negou-lhe a sua ternura.
A vida nunca quis acreditar.

Ligado à voz de um destino mais forte,
Anjo de sombras, mergulha na morte
De tudo aquilo que algum dia amou.

E, de súbito, aos céus erguida em pranto,
Surge uma lua de sangue e de encanto,
Em memória do sonho que quebrou…

Estrela sem Destino

Eu era o brilho do céu cintilante,
O doce encanto da noite perdida,
O reflexo da paz indefinida
Que prometia um futuro brilhante.

Era o puro esplendor de cada instante,
Divindade nas sombras reflectida,
Mas hoje jaz em cinzas minha vida
E o sonho que criei está já distante.

Era a promessa de um amor divino,
Mas hoje sou só estrela sem destino,
Num caminho sem sentido nem norte.

Fui sonho perfeito. Hoje, nada sou,
Presa nas cinzas de quanto quebrou.
Que restará de mim depois da morte?

Thursday, September 06, 2007

Lágrimas

Correm,
Como sombras pelo rosto quebrado
Do anjo prostrado no chão,
Vencido pela mágoa de toda uma vida
Perdida na infinita escuridão.
Lágrimas quentes, salgadas,
De mágoas quebradas
No abismo de uma vida sem futuro,
Tristes como o silêncio disperso,
Submerso pelo ódio escuro
E pelas cicatrizes do passado.
Toda uma alma abandonada em água,
Olhos de mágoa
Sangram no abismo da infinita dor,
Onde o silêncio é vão e a noite é fria,
E a alma vazia
Chora a ausência do amor.

Anjo Crepuscular

Leva-me contigo. Não! Não te quero.
Os teus caminhos não serão os meus,
Pois apenas a morte que espero,
Enquanto voas no esplendor dos céus.

Tu vives no crepúsculo de um deus
E eu, no negro das noites, desespero.
Tu és o anjo dos sonhos e do adeus
E eu não sei nem quem sou ou o que quero.

Não! Não me leves. A tua pureza
Nunca estará na minha natureza.
Nunca terei teu sublime esplendor.

Vai, simplesmente, nas asas da vida,
Ser luz eterna da paz renascida.
Na sombra, eu serei só o meu amor.

À Porta

À porta do silêncio e da amargura
Deixei minhas asas de solidão,
Pois, perdida na sombra da loucura,
Tentei fugir de mim, mas foi em vão.

Deixei-me cair na eterna escuridão
Que foi a essência da minha alma obscura,
Porque, no abismo da condenação,
Não há misericórdia nem ternura.

Abandonei meu sonho derrotado,
Minha breve memória de um passado
Que vivi sempre, mas nunca senti.

À porta do vazio e da tristeza,
Deixei, quebrada, a minha natureza
E, perdida do meu sonho, morri…