Saturday, November 24, 2007

Convite

Caríssimos amigos e frequentadores do meu blogue...
É com muita honra que vos convido para o lançamento do meu novo livro, "Herdeiros de Arasen". O evento decorrerá no próximo dia 15 de Dezembro, pelas 17 horas, no Auditório Municipal de Resende, e contará essencialmente com uma parte musical (executada basicamente por mim) e com uma parte teatral.
Apareçam. Serão muito bem-vindos.
Stay safe...
Carla Ribeiro (The Silent Raven)

Thursday, November 22, 2007

Foges

Finges que não conheces minha vida.
Com insistência ignoras meu chamado.
Foges de mim, como se ressentida
De um qualquer inexistente pecado.

Foges, como da sombra do passado,
Como se a escuridão negra e vencida
Tivesse entrado em mim e dominado
A essência da minha alma destruída.

Tentas agir como se a tua vontade
Fosse outra, mas a tua liberdade
Não te permitisse qualquer opção.

Eu não sou cega! Faz o que quiseres,
Mas tem a decência, quando o fizeres,
De admitir que é vã a tua razão!

Anjos Cansados

Perdidos neste céu de noite escura,
Quebrados pela sombra da solidão,
Somos os anjos da eterna amargura,
Cansados de viver na escuridão.

Somos o espectro da condenação,
A memória de uma palavra obscura
Que, presa nos abismos da razão,
Profetiza uma infinita loucura.

Perdidos neste mundo de memórias,
Somos o berço das velhas histórias
Que encheram o mundo com seu calor.

Mas ninguém vê que a nossa fantasia
Jaz perdida entre sombras de agonia.
Ninguém sente sequer a nossa dor…

Wednesday, November 14, 2007

Falsos

Com toda a minha fé e toda a minha força, dei, por inteiro, a minha alma àqueles que julgava com os amigos ideais, supremo exemplo de vida e de verdade. Inocentemente, coloquei-me nas suas mãos, alimentando a certeza de que, viesse o que viesse, não seria abandonada.
As minhas certezas, contudo, eram apenas um absurdamente frágil castelo de areia levado nas ondas do mar. Aqueles que julgava como as entidades mais próximas de mim não passavam de falsos profetas de um destino morto e, por isso mesmo, a amizade, que em tempos julguei como uma deusa sagrada e inviolável, jaz por terra, vencida, profanada, rasgada de corpo e alma.
E é este o meu mundo… Assim se processam os dias vencidos da minha vida inútil, perdidos entre a sombra do silêncio e o abismo da amargura. A fé morreu, quebrada pela traição. A esperança morreu, vencida pela desilusão. O sonho desapareceu na noite dos falsos encantos de uma existência em verdade vã e inútil.
Agora… Agora, resta-me morrer também.

Tuesday, November 06, 2007

Perto... Longe...

Cada passo dado, a cada momento,
Marca a definição do meu lugar,
Mais perto do meu céu de sentimento,
Mais longe da ilusão do teu olhar.

Longe do que perdi para me encontrar,
Perto das águas do meu pensamento,
Cada momento ensina a recordar
Os silêncios que fugiram no vento.

Cada instante de sonho e de ventura,
Entre sombras de mágoa e de amargura,
Marca o destino de quanto foi meu.

Mais perto do silêncio que magoa,
Perto da escuridão que não perdoa…
Mais longe da vida que, em mim, morreu.

Quando

Quando eles te disserem que eu morri,
Não chores. Também não choraste em vida,
Quando, por tua crueldade destruída,
De toda a minha esperança desisti.

Quando te disserem como eu caí,
Não lamentes minha alma enlouquecida.
Pensa antes que, se me rendi, vendida,
Talvez o tenha feito só por ti.

Quando souberes que abandonei o mundo,
Não me lamentes em pranto profundo.
Não quero a tua mísera piedade.

Quero que saibas, sempre, eternamente,
Que foi por ti, entidade indiferente,
Que me entreguei nas mãos da eternidade!

De Todos

De todos aqueles a quem te deste,
Apenas um não te deixou cair.
Apenas um sentiu o que fizeste
Como algo mais que um inútil sentir.

Só um de entre todos te fez sorrir,
Enquanto choravas o que perdeste.
Só um deles não decidiu partir,
Quando fechaste os olhos e morreste.

De todos aqueles em quem confiaste,
Apenas um sentiu o que passaste
E dividiu contigo o teu sofrer.

Vive por ele. Basta a sua imagem
Para que valha a pena a tua coragem.
Basta a sua voz para que devas viver.

Saturday, October 27, 2007

Tens-me

Tens-me nas mãos, indefesa e vencida,
Perdida no teu deserto de dor.
Teu mundo não conhece luz nem cor.
Também não as verá a minha vida.

Tens-me completamente, a ti rendida,
Mas não sentes senão ódio e rancor…
Pois que seja! Não temo o teu horror.
Não pode quebrar a alma destruída.

Tens-me nas mãos, perdida, abandonada
Na loucura de um deserto de nada,
Tua para tudo aquilo que quiseres.

Mas não está já nas tuas mãos quebrar-me.
Morta, nenhuma dor pode tocar-me,
Por isso, avança. Faz como entenderes…

Meu Triste Olhar

No espelho onde me vejo, destroçada,
Paira um olhar solene e pesaroso,
Que, no seu sofrimento tenebroso,
Me fala de desprezo, morte e nada.

Meu triste olhar, espelho de alma quebrada,
Como eu triste, como eu silencioso,
Reflecte o nada ausente e misterioso
Da minha solidão abandonada.

Minha imagem distante, indefinida,
Como eu ausente e vazia de vida,
Para sempre morta nos confins do nada…

Aqui me vês, a imagem que se esconde
No teu reflexo que olha e não responde…
Virás, algum dia, a ser libertada?

Thursday, October 18, 2007

Desterro

Aqui, onde o silêncio negro, obscuro,
É o único que escuta a minha dor,
Lamento o meu exílio sem futuro,
A minha infinita ausência do amor.

Aqui, onde o abismo não tem cor
E a morte é tudo aquilo que procuro,
Tenho o nada como único senhor
E como desejo o abismo mais escuro.

Aqui, banida de toda a verdade,
Rejeitada pela própria liberdade,
Não conheço de mim senão o nada.

Ah! Não haver uma breve memória
Que devolvesse a paz à minha história
E resgatasse a minha alma fechada…

Fonte de Inspiração

Foste, em tempos, memória do meu ser,
Espelho de tudo quanto procurei,
Fonte de inspiração, mesmo sem querer,
Do secreto universo que sonhei.

Foste o exemplo que eu sempre admirei,
O heróico ideal, o exemplo de viver.
Foste o refúgio que nunca encontrei,
Minha salvação, mesmo sem saber.

Em ti, vi sentimento e liberdade,
Audácia, sonho e força de vontade.
Com a tua força, à vida me ligaste.

Mas, agora, também tu estás ausente.
Também tu foges, cruel e indiferente.
No final, também tu me abandonaste…

Saturday, October 06, 2007

Hora Macabra

Maldito instante de ódio e de loucura
Marca as trevas do meu eterno horror,
Perdida num infinito de dor
Onde a própria existência me tortura.

Hora macabra, a desta noite escura
Onde tudo é escuridão e temor...
Jaz morta a memória do terno amor,
Aos pés do negro espectro da amargura.

Momento negro de agonia e morte,
Onde não há silêncio que conforte
As convulsões de um anjo moribundo...

Mais negro instante, aurora de tristeza...
Homem, esta é a tua natureza!
Ser o carrasco do teu próprio mundo...

Não Quero a Vida Assim

Não quero a vida assim, sinistra e fria
Como as memórias do meu negro ser.
Fere demais continuar a viver
Nas sombras desta existência vazia.

Não quero a vida assim, sem fantasia,
Distante de quanto amei sem saber.
Não me quero encontrar, para me perder
Nos soturnos desertos da agonia.

Não quero sonhar com breves encantos
Para os ver desabar nos negros prantos
Que são tudo quanto resta no fim.

Se é para continuar neste deserto
De ver longe tudo quanto quis perto,
Então não quero a vida que há em mim!

Nostalgia

A memória vem, tímida e ausente,
Como um breve sussurro inacabado,
Recordando os momentos de um passado
Que julgava viver eternamente.

Disseste que ias estar sempre presente,
Mas, no final, não estavas do meu lado
Quando o meu sonho se tornou pecado
E a luz quebrou face ao mundo indiferente.

Hoje, sozinha na bruma da história,
Não tenho senão a breve memória
Do passado e a eterna nostalgia.

Obrigada pelo encanto que me deste.
Se fugiste de mim, se me temeste,
Sempre deixaste a voz da fantasia…

Ousadia

Como te atreves a falar em vida?
Tu, que não tens sequer um sentimento!
Nunca viveste, nem por um momento,
Presa no teu sonhar de alma perdida.

Nunca sentiste a esperança destruída
Nem o vazio do eterno desalento.
Que sabes tu, pois, do meu pensamento?
Que conheces da minha alma escondida?

Como podes tu ter a ousadia
De me chamar de fútil e vazia?
Tu, que vives escondida e abrigada…

Olha para ti! Tu nunca conheceste
Mais que vazio! Tu nem sequer viveste!
Que sabes tu de mim? Não sabes nada!

Friday, September 28, 2007

Abismo

Por todos aqueles que julgaste incapazes de te trair,
Por aqueles a quem te entregaste sem resistir,
Pelos sonhos que abandonaste em nome da amizade,
Pela inútil esperança de fidelidade,
Por toda a devoção que dedicaste a almas vãs,
Pelos sonhos vencidos de mil amanhãs,
Por todas as memórias que deixaste por contar,
Pela paz que recusaste sem hesitar,
Pelas mãos onde a tua vida perdeu o sentido,
Pelo espectro banal do teu mundo perdido,
Pelo mundo que te viu sofrer, indiferente,
Pela amizade que jurou viver eternamente,
Por tudo o que amaste, apenas para perder,
Por tudo o que deste, para não receber,
Por todos os sonhos que ficaram por viver,
Esquece quem és e o mundo que falhou,
Olha o abismo onde tudo terminou,
Fecha os olhos, mergulha…
E deixa-te morrer.

Homens

Filhos da vida fria e derrotada,
Homens de pedra, ausentes e distantes,
Eu sou a voz do inalcançável nada
Que se esconde na sombra dos instantes.

Sou eco dos murmúrios inconstantes
Que se perdem na noite abandonada,
Onde os sonhos noutro tempo brilhantes
Quebram nas cinzas da noite magoada.

Homens cruéis, de sombra e noite escura
É feita a casa da eterna amargura
A que me condenou a vossa mão.

Mas um tempo há-de vir em que o vazio
Do vosso universo sinistro e frio
Há-de implorar pela voz do meu perdão!

Lua de Sangue

Chora na bruma o céu da noite escura,
Sinistro eco de um sonho sem lugar,
E, perdido nas ruas da amargura,
Caminha um anjo que não sabe amar.

Alma quebrada, incapaz de voltar,
Vagueia nos silêncios da loucura.
O mundo negou-lhe a sua ternura.
A vida nunca quis acreditar.

Ligado à voz de um destino mais forte,
Anjo de sombras, mergulha na morte
De tudo aquilo que algum dia amou.

E, de súbito, aos céus erguida em pranto,
Surge uma lua de sangue e de encanto,
Em memória do sonho que quebrou…

Estrela sem Destino

Eu era o brilho do céu cintilante,
O doce encanto da noite perdida,
O reflexo da paz indefinida
Que prometia um futuro brilhante.

Era o puro esplendor de cada instante,
Divindade nas sombras reflectida,
Mas hoje jaz em cinzas minha vida
E o sonho que criei está já distante.

Era a promessa de um amor divino,
Mas hoje sou só estrela sem destino,
Num caminho sem sentido nem norte.

Fui sonho perfeito. Hoje, nada sou,
Presa nas cinzas de quanto quebrou.
Que restará de mim depois da morte?

Thursday, September 06, 2007

Lágrimas

Correm,
Como sombras pelo rosto quebrado
Do anjo prostrado no chão,
Vencido pela mágoa de toda uma vida
Perdida na infinita escuridão.
Lágrimas quentes, salgadas,
De mágoas quebradas
No abismo de uma vida sem futuro,
Tristes como o silêncio disperso,
Submerso pelo ódio escuro
E pelas cicatrizes do passado.
Toda uma alma abandonada em água,
Olhos de mágoa
Sangram no abismo da infinita dor,
Onde o silêncio é vão e a noite é fria,
E a alma vazia
Chora a ausência do amor.

Anjo Crepuscular

Leva-me contigo. Não! Não te quero.
Os teus caminhos não serão os meus,
Pois apenas a morte que espero,
Enquanto voas no esplendor dos céus.

Tu vives no crepúsculo de um deus
E eu, no negro das noites, desespero.
Tu és o anjo dos sonhos e do adeus
E eu não sei nem quem sou ou o que quero.

Não! Não me leves. A tua pureza
Nunca estará na minha natureza.
Nunca terei teu sublime esplendor.

Vai, simplesmente, nas asas da vida,
Ser luz eterna da paz renascida.
Na sombra, eu serei só o meu amor.

À Porta

À porta do silêncio e da amargura
Deixei minhas asas de solidão,
Pois, perdida na sombra da loucura,
Tentei fugir de mim, mas foi em vão.

Deixei-me cair na eterna escuridão
Que foi a essência da minha alma obscura,
Porque, no abismo da condenação,
Não há misericórdia nem ternura.

Abandonei meu sonho derrotado,
Minha breve memória de um passado
Que vivi sempre, mas nunca senti.

À porta do vazio e da tristeza,
Deixei, quebrada, a minha natureza
E, perdida do meu sonho, morri…

Tuesday, August 28, 2007

Olhos de Sombra

Não sou quem vês. Na sombra da loucura
Onde a minha inocência se perdeu,
Caminha uma voz de ódio e de amargura,
Memória de um destino que morreu.

A sombra que reconheces como eu
Não passa de uma fantasia obscura,
Criada para esconder quanto de meu
Se vendeu ao vazio da noite escura.

Não sou quem vês, este demónio breve
Que ocupa o espaço onde minha alma esteve,
Espectro de horror e infinito sadismo.

Não… A minha crueldade é uma fachada
Que oculta em si as sombras do meu nada,
O que restou de mim, depois do abismo…

Ele Morreu

Chora, noite soturna e misteriosa!
Que não se cale nunca a tua dor!
Pois, entre as sombras do nada e do amor,
Quebrou a etérea luz da tua rosa.

Chora comigo, oh, dama tenebrosa,
Pois não há na vida senão temor!
Que seja sempre o negro a tua cor,
Noite como eu sombria e pesarosa.

Grita comigo em estertores de agonia!
Que nunca dês lugar à luz do dia
E fiques, sempre, negra como eu.

Num cântico de dor fria, perdida,
Chora comigo o vazio desta vida.
Que o mundo morra, já que ele morreu!

Coração Humano

A minha alma é um sonho inacabado,
Coração preso em angústia mortal.
Ecoa no meu espírito quebrado
Do imenso abismo o cântico final.

O meu sonho é de noite espiritual,
Memória de um destino derrotado.
Não conheço de mim senão o mal
Das negras cicatrizes do passado.

O meu espírito é sombra sem sentido
E, nesta existência de anjo vencido,
Vivi toda a eternidade num ano.

Em cinzas se desfez meu sonho eleito...
Bate, contudo, dentro do meu peito,
Um coração negro... Mas sempre humano...

Raio de Luz

Como uma sombra de sonho e loucura
Perdida entre silêncio e solidão,
Passava, qual fantasma de amargura,
Raio de luz cruzando a escuridão.

Espectro de infinita condenação
Entre as cinzas de uma ruína obscura,
Pisava a estrada do universo vão,
Sombra entre as sombras de uma noite escura.

Anjo celeste aos infernos descido,
Passava pelo mundo destruído,
Memória de um futuro inacabado.

Perdido num silêncio interminável,
Anjo do abismo, morto, incontornável,
Raio de luz nas trevas apagado…

Sombras e Espectros

Anda um fantasma, hesitante, escondido
Nas cinzas de minha alma condenada,
Como a memória de um sonho perdido,
Abandonado ao mais completo nada.

Uma sombra distante, abandonada,
Atravessa o meu coração vencido,
Como uma promessa fria, quebrada,
Perdida nos confins de um céu esquecido.

Espectros vazios, de horror e de amargura,
Cruzam as sombras da minha loucura,
Como ecos de um destino que morreu.

Sombras e espectros, fantasmas e dor,
Atravessam minha vida sem cor,
E tudo habita em mim… excepto eu.

O Sangue dos Inocentes

Mundo cruel, entre sonhos quebrados
Se movem as teias do teu sentido,
Tu que, no horror de um mundo destruído,
Te alimentas da alma dos condenados.

És negro como a sombra dos pecados
Que crias em cada sonho vencido,
Tu que, indiferente ao lamento perdido,
Não sentes senão sonhos derrotados.

Mundo, o teu negro horror é tenebroso,
Quando, entre sombras, vens, silencioso,
Com profecias cruéis, inclementes.

E o tempo que te chama é incompleto,
Sentinela de um túmulo secreto,
Lavado no sangue dos inocentes!

Deixa a Alma Gritar

Não te controles mais. Se tens chorado
Em silêncio, então deixa de o fazer.
Se o mundo diz que mereces sofrer,
Então não escondas teu peito rasgado.

Não finjas que o teu coração magoado
Não sente as agonias de viver.
Não escondas o que sentes. Deixa-os ver
O que tanto quiseram ver quebrado.

Não te feches mais. Deixa a alma gritar
Pela dor com que quebraram teu olhar.
Para de fingir que és indiferente.

Deixa que vejam. Não é o que querem?
Talvez quando souberem e entenderem,
Te permitam dormir eternamente…

Wednesday, August 08, 2007

Acção e Reacção

Olhou para mim como um anjo magoado,
Perdido num silêncio sem lugar.
Estendeu os braços nus ao céu sagrado,
Como se me pedisse para o salvar.

Nos seus olhos de quem não sabe amar,
Chorava a dor de um coração quebrado.
Nos seus braços cansados de lutar,
Havia o frio do sonho derrotado.

Olhou para mim, numa angústia submissa,
Num silencioso grito por justiça
Face ao vazio de tudo o que não sei.

E olhei para ele, triste anjo sombrio,
Estendi meus braços para o seu vazio
E, olhando o seu olhar, também chorei…

Os Olhos de Sirius

Como a estrela negra sublime e obscuro,
Ele é o anjo da condenação.
Olhos soturnos, cor de escuridão,
Reflectem a luz de quanto procuro.

Sinistro e frio, mas inocente e puro,
Ele é o rosto, a soturna expressão
Da eternamente negra solidão
Que marcou seu passado e seu futuro.

Sombrio olhar de inefável tristeza,
Nele se esconde a inocente beleza
De uma pena que não lhe pertenceu.

Olhar de solidão, melancolia…
Príncipe de ilusão e fantasia,
Perdido e condenado, como eu…

Versos de Sangue

Veias rasgadas pelo punhal da vida,
Pela voz da morte corpo enfraquecido,
Dito, nesta agonia indefinida,
Versos de sangue e de sonho perdido.

Agonizante, corpo destruído,
Moribunda essência de alma perdida,
Murmuro versos negros, sem sentido,
Frios como a noite que me tem vencida.

Como um murmúrio, partem, indomáveis,
Negros versos de horror, intermináveis,
Arrancados à alma em convulsão.

Poemas moribundos de alma rasgada,
Vão, no meu sangue, em direcção ao nada,
Deixando em mim só morte e escuridão...

Sob as Asas dos Caídos

Vivo sob as asas de anjos quebrados
Pela miséria dos sonhos destruídos.
Encontrei, entre sonhos derrubados,
Meu refúgio na sombra dos vencidos.

Escondida sob as asas dos caídos,
Vivo distante dos ideais amados.
Não tenho já futuro nem sentidos,
Mas apenas meus sonhos derrotados.

Entre os quebrados da vida cruel,
Escondo a tristeza de uma alma fiel,
Para sempre condenada à escuridão.

Também eu sou só um anjo caído,
Sonhando ainda com um céu perdido.
As minhas asas nunca voarão!

Lágrima Prevista

Um breve pensamento, indefinido,
Passa pela mente distante, vazia.
Instala-se, então, a melancolia
E o negro sonho sente-se perdido.

Vem, depois, a procura de um sentido
Para uma vida sádica e sombria.
Seguem-se o desespero e a agonia
De nada ver senão o céu vencido.

Trava-se, então, a guerra da vontade
De viver contra a dor da eternidade.
Quer quebrar a alma… A voz não o fará.

E é só no fim, quando a dor é mais forte,
Que o silêncio que prenuncia a morte
Surge à luz da lágrima que virá.

Saturday, March 10, 2007

Um Murmúrio Distante

Preso na noite do eterno vazio
Anda um encanto perdido, inconstante,
Perdido num momento fugidio
Do seu eterno sonho cintilante.

Passa por mim um murmúrio distante,
Eco esquecido de um sonho sombrio,
Gravando, na memória de um instante,
As palavras de um canto morto e frio.

Escondidos no silêncio dos perdidos,
Pairam no ar sentimentos esquecidos,
Memórias sem caminho e sem sentido.

E esse murmúrio breve, inacabado,
Guarda o meu sonho, morto, derrotado,
No meu sepulcro de anjo destruído...

Meu Santuário

Onde eu sou eu e os sonhos sem sentido
Se transformam em sombras de loucura,
Paira uma cruz da cor da noite escura
Em memória do meu mundo perdido.

Onde morreu o último anjo caído,
Por entre as cinzas da eterna amargura,
Ergue-se o altar de uma magia obscura,
Onde o meu espírito foi consumido.

Onde eu sou o que sou e a sombra passa
Por entre os ecos da minha desgraça,
Há um templo de noite e escuridão.

Meu santuário do tempo derrotado...
Aqui jazem as cinzas do passado,
Na sombra da eterna condenação...

Amas-me?

Agora vês a sombra negra, escura,
Que permanece algures em mim perdida.
Agora vês que toda a minha vida
Foi desperdiçada em nada e loucura.

Agora vês que espectro me tortura,
Que horror me guia a mente enlouquecida.
Agora sabes que sombra esquecida
Ficou da minha indecisão obscura.

E, agora que todo o tempo perdido
Põe fim à minha vida sem sentido
E surge, breve, a promessa do fim,

Pergunto... Agora que viste o pecado
Que assombra os fantasmas do meu passado,
Amas-me ainda? Ainda gostas de mim?

Vitae Lux

Longe, nas trevas de uma noite escura,
Brilha uma estrela etérea, indefinida,
Iluminando a sombra escurecida
Que vagueia nas brumas da loucura.

Brilha, distante, eternamente pura,
A mais perfeita das luzes da vida,
Atenuando a dor da alma perdida
Que, no vazio das sombras, a procura.

Sozinha, no infinito céu distante,
Resplandece, nas alturas, brilhante,
A estrela da promessa de outro céu.

E, na terra, anda um vulto misterioso,
Lamentando um destino tenebroso.
Brilha para mim, doce estrela! Sou eu!

Friday, February 02, 2007

Ad Amicos

20/12/2006

Meus mais que queridos amigos,
Eis-me chegada à minha mais negra hora.
Já nem a vossa presença,
A vossa força
E a vossa coragem
Conseguem afastar do meu pensamento
As trevas dos fantasmas que me assombram.
Sinto, mais que nunca,
Uma escuridão assombrosa
Dentro do meu peito.
A minha alma é percorrida
Por uma constante onda de angústia
E tenho a impressão que,
Dentro do meu peito,
O bater do meu coração
É cada vez mais débil,
Mais distante.
Não tenho mais forças
Para continuar a suportar
A terrível tortura de cada dia,
A agonia de cada instante.
Chegou a hora
De deixar cair a vida,
Ainda que isso signifique abandonar-vos.
É cobardia, eu sei.
Abandonando-me,
Provo aquilo que sempre foi uma suspeita:
Que sou indigna da vossa confiança,
Que não mereço a vossa amizade,
Que o vosso tempo
E os vossos sentimentos
Foram desperdiçados em mim.
Mas,
Se os meus passos me guiam para o abismo,
Mesmo sabendo o mal que vos farei,
É porque não me restam já alternativas
E é inadiável a hora da queda.
Toda a minha alma é vossa...
Adoro-vos com todas as minhas forças,
Mas não posso mais ficar.
O meu último pensamento é vosso,
Meus amigos,
E é uma súplica desesperada,
Em nome de tudo o que fomos.
Perdoai-me...
Por favor, perdoai-me.

Infiel

27/09/2006 – Também sofri com as tuas palavras...

Para ver quem tu verdadeiramente eras,
Foi preciso que eu voltasse a cair.

Foi preciso que, nos espasmos dolorosos da vida,
Gritasse o teu nome, uma, outra e outra vez,
Implorando o teu apoio e a tua ajuda,
E que, enojada, te recusasses a aproximar de mim...
Foi preciso
Escutar as tuas acusações injustas
De que caí apenas porque quis
E de que não me volto a erguer
Porque me é agradável a dor insuportável que sinto.
Foi preciso ver nos teus olhos
O desprezo e a repugnância que sentes
Para entender que estava errada a teu respeito.

Porque eu acreditei em ti...Mas tu não valias nada.

Saberás tu, porventura,
O que é morrer por dentro na aurora da vida?
Será que sabes
A dor que se sente por dentro
Ao ver tudo aquilo que alguma vez teve significado
Ser reduzido a cinzas, pó e nada?
Saberás tu como queima por dentro
Ser-se traído, recusado e abandonado
Por aqueles que se fingiam amigos?

Não sabes, pois não?
Então, responde-me, agora:
Sou eu que quero ser assim?
Achas que gosto de estar assim?

Abri-te a minha alma, cegamente,
E, contudo, quando estava já ferida,
Acabaste de a matar...

Mas lembra-te de uma coisa...
Do vazio eterno de onde a minha alma te observa,
Enquanto eu me arrasto nesta existência inútil,
Ela vê, como eu agora vejo,
Aquilo que tu és,
E sabe, como eu sei,
Que, um dia, também tu vais descobrir a dor,
A mágoa,
A tristeza,
A solidão
E o abandono,
E, então, vais compreender
Aquilo que eu te disse muitas vezes
Mas que tu não quiseste escutar:
Que também os filhos da noite têm sentimentos,
Também amam,
Também sofrem
E também morrem de dor.

...Mas tu não compreendes isso...
Pois não?

Ira

És um mundo esquecido, duvidoso,
Sempre inconstante, sempre diferente.
Há em ti um silêncio tenebroso
Que cobre a escuridão da minha mente.

Mudas com uma certeza indiferente...
Num momento, um sorriso radioso,
Depois, um esgar de raiva, ódio evidente,
Por fim, silêncio negro, pesaroso.

És uma sombra fria, indefinida,
A memória etérea da própria vida
De quem viveu eternamente preso.

Mas não escondas em ti a tua dor,
Pois, neste mundo de morte e temor,
Prefiro a tua ira ao teu desprezo!

Fantasia Obscura

Sou uma noite eterna, indefinida,
Alma de escuridão tempestuosa.
Sou a sombra da morte tenebrosa,
Perseguindo o espectro da própria vida.

Sou o limite da esperança perdida,
A voz de uma canção silenciosa,
A noite negra da mais negra rosa,
Profecia de uma vida vencida.

Sou um campo de flores, destroçado,
Florido mês de Abril, despedaçado,
Radiante céu azul, escurecido.

Ah, não haver em mim uma miragem
Que arrancasse das brumas minha imagem
E desse à minha vida algum sentido!

Último Adeus

Se é tempo de deixar para trás a história
E tudo aquilo que um dia foi teu,
Sabe que, depois de ti, fica a glória
De quanto, na vida, te aconteceu.

Se é tempo de rejeitar o teu eu,
Para deixar apenas a memória,
Sabe que a tua lembrança não morreu
E que é essa a tua maior vitória.

Mas, se tens medo, não do que se segue
Nem da sombra que sempre te persegue,
Mas apenas da dor da despedida,

Olha, pela última vez, a natureza
E canta o teu lamento de tristeza:
Não tenhas medo de chorar pela vida!

Herdeiro

Tu que, depois de mim, serás, um dia,
Como eu, a sombra dos anjos caídos,
Não deixes que os teus sonhos destruídos
Apaguem em ti toda a fantasia.

Não deixes que uma existência sombria
Possua à força a flor dos teus sentidos.
Mantém para os céus os teus olhos erguidos
E a tua vida não será vazia.

Não esqueças a pureza e a inocência,
Na escuridão de um mundo de demência
Onde ninguém te respeita ou te sente.

Sê forte, herdeiro meu, meu anjo de água.
O tempo apagará a tua mágoa.
A vida há-de guardar-te eternamente...