Tuesday, August 28, 2007

Olhos de Sombra

Não sou quem vês. Na sombra da loucura
Onde a minha inocência se perdeu,
Caminha uma voz de ódio e de amargura,
Memória de um destino que morreu.

A sombra que reconheces como eu
Não passa de uma fantasia obscura,
Criada para esconder quanto de meu
Se vendeu ao vazio da noite escura.

Não sou quem vês, este demónio breve
Que ocupa o espaço onde minha alma esteve,
Espectro de horror e infinito sadismo.

Não… A minha crueldade é uma fachada
Que oculta em si as sombras do meu nada,
O que restou de mim, depois do abismo…

Ele Morreu

Chora, noite soturna e misteriosa!
Que não se cale nunca a tua dor!
Pois, entre as sombras do nada e do amor,
Quebrou a etérea luz da tua rosa.

Chora comigo, oh, dama tenebrosa,
Pois não há na vida senão temor!
Que seja sempre o negro a tua cor,
Noite como eu sombria e pesarosa.

Grita comigo em estertores de agonia!
Que nunca dês lugar à luz do dia
E fiques, sempre, negra como eu.

Num cântico de dor fria, perdida,
Chora comigo o vazio desta vida.
Que o mundo morra, já que ele morreu!

Coração Humano

A minha alma é um sonho inacabado,
Coração preso em angústia mortal.
Ecoa no meu espírito quebrado
Do imenso abismo o cântico final.

O meu sonho é de noite espiritual,
Memória de um destino derrotado.
Não conheço de mim senão o mal
Das negras cicatrizes do passado.

O meu espírito é sombra sem sentido
E, nesta existência de anjo vencido,
Vivi toda a eternidade num ano.

Em cinzas se desfez meu sonho eleito...
Bate, contudo, dentro do meu peito,
Um coração negro... Mas sempre humano...

Raio de Luz

Como uma sombra de sonho e loucura
Perdida entre silêncio e solidão,
Passava, qual fantasma de amargura,
Raio de luz cruzando a escuridão.

Espectro de infinita condenação
Entre as cinzas de uma ruína obscura,
Pisava a estrada do universo vão,
Sombra entre as sombras de uma noite escura.

Anjo celeste aos infernos descido,
Passava pelo mundo destruído,
Memória de um futuro inacabado.

Perdido num silêncio interminável,
Anjo do abismo, morto, incontornável,
Raio de luz nas trevas apagado…

Sombras e Espectros

Anda um fantasma, hesitante, escondido
Nas cinzas de minha alma condenada,
Como a memória de um sonho perdido,
Abandonado ao mais completo nada.

Uma sombra distante, abandonada,
Atravessa o meu coração vencido,
Como uma promessa fria, quebrada,
Perdida nos confins de um céu esquecido.

Espectros vazios, de horror e de amargura,
Cruzam as sombras da minha loucura,
Como ecos de um destino que morreu.

Sombras e espectros, fantasmas e dor,
Atravessam minha vida sem cor,
E tudo habita em mim… excepto eu.

O Sangue dos Inocentes

Mundo cruel, entre sonhos quebrados
Se movem as teias do teu sentido,
Tu que, no horror de um mundo destruído,
Te alimentas da alma dos condenados.

És negro como a sombra dos pecados
Que crias em cada sonho vencido,
Tu que, indiferente ao lamento perdido,
Não sentes senão sonhos derrotados.

Mundo, o teu negro horror é tenebroso,
Quando, entre sombras, vens, silencioso,
Com profecias cruéis, inclementes.

E o tempo que te chama é incompleto,
Sentinela de um túmulo secreto,
Lavado no sangue dos inocentes!

Deixa a Alma Gritar

Não te controles mais. Se tens chorado
Em silêncio, então deixa de o fazer.
Se o mundo diz que mereces sofrer,
Então não escondas teu peito rasgado.

Não finjas que o teu coração magoado
Não sente as agonias de viver.
Não escondas o que sentes. Deixa-os ver
O que tanto quiseram ver quebrado.

Não te feches mais. Deixa a alma gritar
Pela dor com que quebraram teu olhar.
Para de fingir que és indiferente.

Deixa que vejam. Não é o que querem?
Talvez quando souberem e entenderem,
Te permitam dormir eternamente…

Wednesday, August 08, 2007

Acção e Reacção

Olhou para mim como um anjo magoado,
Perdido num silêncio sem lugar.
Estendeu os braços nus ao céu sagrado,
Como se me pedisse para o salvar.

Nos seus olhos de quem não sabe amar,
Chorava a dor de um coração quebrado.
Nos seus braços cansados de lutar,
Havia o frio do sonho derrotado.

Olhou para mim, numa angústia submissa,
Num silencioso grito por justiça
Face ao vazio de tudo o que não sei.

E olhei para ele, triste anjo sombrio,
Estendi meus braços para o seu vazio
E, olhando o seu olhar, também chorei…

Os Olhos de Sirius

Como a estrela negra sublime e obscuro,
Ele é o anjo da condenação.
Olhos soturnos, cor de escuridão,
Reflectem a luz de quanto procuro.

Sinistro e frio, mas inocente e puro,
Ele é o rosto, a soturna expressão
Da eternamente negra solidão
Que marcou seu passado e seu futuro.

Sombrio olhar de inefável tristeza,
Nele se esconde a inocente beleza
De uma pena que não lhe pertenceu.

Olhar de solidão, melancolia…
Príncipe de ilusão e fantasia,
Perdido e condenado, como eu…

Versos de Sangue

Veias rasgadas pelo punhal da vida,
Pela voz da morte corpo enfraquecido,
Dito, nesta agonia indefinida,
Versos de sangue e de sonho perdido.

Agonizante, corpo destruído,
Moribunda essência de alma perdida,
Murmuro versos negros, sem sentido,
Frios como a noite que me tem vencida.

Como um murmúrio, partem, indomáveis,
Negros versos de horror, intermináveis,
Arrancados à alma em convulsão.

Poemas moribundos de alma rasgada,
Vão, no meu sangue, em direcção ao nada,
Deixando em mim só morte e escuridão...

Sob as Asas dos Caídos

Vivo sob as asas de anjos quebrados
Pela miséria dos sonhos destruídos.
Encontrei, entre sonhos derrubados,
Meu refúgio na sombra dos vencidos.

Escondida sob as asas dos caídos,
Vivo distante dos ideais amados.
Não tenho já futuro nem sentidos,
Mas apenas meus sonhos derrotados.

Entre os quebrados da vida cruel,
Escondo a tristeza de uma alma fiel,
Para sempre condenada à escuridão.

Também eu sou só um anjo caído,
Sonhando ainda com um céu perdido.
As minhas asas nunca voarão!

Lágrima Prevista

Um breve pensamento, indefinido,
Passa pela mente distante, vazia.
Instala-se, então, a melancolia
E o negro sonho sente-se perdido.

Vem, depois, a procura de um sentido
Para uma vida sádica e sombria.
Seguem-se o desespero e a agonia
De nada ver senão o céu vencido.

Trava-se, então, a guerra da vontade
De viver contra a dor da eternidade.
Quer quebrar a alma… A voz não o fará.

E é só no fim, quando a dor é mais forte,
Que o silêncio que prenuncia a morte
Surge à luz da lágrima que virá.