Saturday, October 27, 2007

Tens-me

Tens-me nas mãos, indefesa e vencida,
Perdida no teu deserto de dor.
Teu mundo não conhece luz nem cor.
Também não as verá a minha vida.

Tens-me completamente, a ti rendida,
Mas não sentes senão ódio e rancor…
Pois que seja! Não temo o teu horror.
Não pode quebrar a alma destruída.

Tens-me nas mãos, perdida, abandonada
Na loucura de um deserto de nada,
Tua para tudo aquilo que quiseres.

Mas não está já nas tuas mãos quebrar-me.
Morta, nenhuma dor pode tocar-me,
Por isso, avança. Faz como entenderes…

Meu Triste Olhar

No espelho onde me vejo, destroçada,
Paira um olhar solene e pesaroso,
Que, no seu sofrimento tenebroso,
Me fala de desprezo, morte e nada.

Meu triste olhar, espelho de alma quebrada,
Como eu triste, como eu silencioso,
Reflecte o nada ausente e misterioso
Da minha solidão abandonada.

Minha imagem distante, indefinida,
Como eu ausente e vazia de vida,
Para sempre morta nos confins do nada…

Aqui me vês, a imagem que se esconde
No teu reflexo que olha e não responde…
Virás, algum dia, a ser libertada?

Thursday, October 18, 2007

Desterro

Aqui, onde o silêncio negro, obscuro,
É o único que escuta a minha dor,
Lamento o meu exílio sem futuro,
A minha infinita ausência do amor.

Aqui, onde o abismo não tem cor
E a morte é tudo aquilo que procuro,
Tenho o nada como único senhor
E como desejo o abismo mais escuro.

Aqui, banida de toda a verdade,
Rejeitada pela própria liberdade,
Não conheço de mim senão o nada.

Ah! Não haver uma breve memória
Que devolvesse a paz à minha história
E resgatasse a minha alma fechada…

Fonte de Inspiração

Foste, em tempos, memória do meu ser,
Espelho de tudo quanto procurei,
Fonte de inspiração, mesmo sem querer,
Do secreto universo que sonhei.

Foste o exemplo que eu sempre admirei,
O heróico ideal, o exemplo de viver.
Foste o refúgio que nunca encontrei,
Minha salvação, mesmo sem saber.

Em ti, vi sentimento e liberdade,
Audácia, sonho e força de vontade.
Com a tua força, à vida me ligaste.

Mas, agora, também tu estás ausente.
Também tu foges, cruel e indiferente.
No final, também tu me abandonaste…

Saturday, October 06, 2007

Hora Macabra

Maldito instante de ódio e de loucura
Marca as trevas do meu eterno horror,
Perdida num infinito de dor
Onde a própria existência me tortura.

Hora macabra, a desta noite escura
Onde tudo é escuridão e temor...
Jaz morta a memória do terno amor,
Aos pés do negro espectro da amargura.

Momento negro de agonia e morte,
Onde não há silêncio que conforte
As convulsões de um anjo moribundo...

Mais negro instante, aurora de tristeza...
Homem, esta é a tua natureza!
Ser o carrasco do teu próprio mundo...

Não Quero a Vida Assim

Não quero a vida assim, sinistra e fria
Como as memórias do meu negro ser.
Fere demais continuar a viver
Nas sombras desta existência vazia.

Não quero a vida assim, sem fantasia,
Distante de quanto amei sem saber.
Não me quero encontrar, para me perder
Nos soturnos desertos da agonia.

Não quero sonhar com breves encantos
Para os ver desabar nos negros prantos
Que são tudo quanto resta no fim.

Se é para continuar neste deserto
De ver longe tudo quanto quis perto,
Então não quero a vida que há em mim!

Nostalgia

A memória vem, tímida e ausente,
Como um breve sussurro inacabado,
Recordando os momentos de um passado
Que julgava viver eternamente.

Disseste que ias estar sempre presente,
Mas, no final, não estavas do meu lado
Quando o meu sonho se tornou pecado
E a luz quebrou face ao mundo indiferente.

Hoje, sozinha na bruma da história,
Não tenho senão a breve memória
Do passado e a eterna nostalgia.

Obrigada pelo encanto que me deste.
Se fugiste de mim, se me temeste,
Sempre deixaste a voz da fantasia…

Ousadia

Como te atreves a falar em vida?
Tu, que não tens sequer um sentimento!
Nunca viveste, nem por um momento,
Presa no teu sonhar de alma perdida.

Nunca sentiste a esperança destruída
Nem o vazio do eterno desalento.
Que sabes tu, pois, do meu pensamento?
Que conheces da minha alma escondida?

Como podes tu ter a ousadia
De me chamar de fútil e vazia?
Tu, que vives escondida e abrigada…

Olha para ti! Tu nunca conheceste
Mais que vazio! Tu nem sequer viveste!
Que sabes tu de mim? Não sabes nada!