Tuesday, December 23, 2008

O Calar das Armas

Hoje o silêncio parece um refúgio simpático
Para a minha voz
E o cansaço da batalha pulsa no meu coração cansado
Como um murmúrio de corvo moribundo.
A minha mão suspira sobre a espada morta
E, perante a espada, eu juro
Não voltar a erguer as mãos ao altíssimo céu do sonho
Que paira sobre a memória do silêncio fragmentado.

Hoje, o meu peito sangra no limiar do esquecimento
E o abismo abre-se sobre a minha garganta amordaçada.
Juro aos deuses do oráculo perdido
Que a minha pena não se voltará erguer nos gritos do anseio
E que a banalidade dos ecos que me cativaram a esperança
Não deixará de morrer na mordaça do meu cárcere interior.
Deixo na pele os traços de um papiro ensanguentado
E bailo no limiar do abismo com a morte como Superior.

Hoje, o meu grito afoga-se nas marés da pedra tumular
E a lápide desertificada do que apaguei no destino
Queima as fogueiras do corpo que dorme dentro de mim
Como num sacrifício de esferas imoladas no altar do risco.
Durmo no sudário de um manto que me ensanguenta as mãos
Com o convulsionar moribundo das palavras amordaçadas
E, perante a cruz onde se estende o corpo da esperança desvanecida,
Juro aceitar o silêncio
Como reverso do meu adeus adormecido.

Friday, December 19, 2008

Feliz Natal

Também no mundo das sombras há momentos a celebrar e épocas especiais que não podem cair no esquecimento.
A todos os amigos e visitantes deste meu espaço, deixo aqui os votos de um Natal cheio de paz, amor, magia e amizade e de um novo ano onde todos os sonhos se tornem reais através da força, da coragem e da inspiração.
Obrigada por passarem pelo meu mundo...
Carla Ribeiro

Thursday, December 18, 2008

Sobre o Túmulo de Mim

Deixa-me uma rosa
Escondida nos recessos do mármore que me prende a alma,
Sepulcro de um outro túmulo maior,
A pedra de carne e sangue que me encerra
Num deserto de ecos e labirintos sem razão.

Deixa-me o teu sorriso
Como flor morta sobre o túmulo de mim
E leva na aurora dos tempos o silêncio do meu grito,
A voz que rasga a terra
No sísmico abalo de um inferno pessoal.

Wednesday, December 03, 2008

Concílio dos Deuses

Falam os deuses de ilusões aladas
Perdidas no fragor da tempestade
E há versos de silêncio e de saudade
No seu murmúrio de almas destroçadas.

Falam de sonhos, silêncios e nadas
Presos na dispersão da potestade,
Como se a sua austera majestade
Fosse também prisão de almas quebradas.

Cantam os deuses lamentos de bruma
Por sentimentos de coisa nenhuma
Espelhados pelos labirintos do céu.

Choram, como a dolente humanidade
Que ergue os olhos à voz da eternidade!
São, também, prisioneiros, como eu…