Cada palavra a sangue e dor marcada num grito de revolta silenciosa... Esta sou eu... A sombra, a noite... O nada.
Wednesday, March 20, 2013
Fiel
Só tu poderás dormir sobre a minha tumba
Quando eu partir
E o vento fustigar a lápide que me cobre
Gemendo imitações de som.
De sons, dos meus passos
Sobre a terra húmida da aldeia serena
E do teu saltar a quatro patas a meu lado,
Como se estivesses ainda
De olhar expectante no meu olhar perdido
E não enroscado no mármore frio,
Também à espera do fim.
Só tu, quando os que passam te encontrarem
E acariciarem com mãos indiferentes
O teu manto gelado, como eu,
Poderás falar de abismos que me engoliram
E te deixaram para trás,
Negro também, na alma e no coração,
À espera de um eu que não pode
Regressar.
Só tu serás, então, o meu profeta,
Para lhes lembrar que serão como eu
E que o tempo passará, também, quando partires
Para o abrir de meus braços na escuridão.
Talvez, então, uma lágrima te embale
E lave a pedra do derradeiro adeus,
E, em ti, fiel a mim,
Fiel a nós,
Eles consigam ver outra verdade, outra
Vida
A pulsar nos seus corações de pedra.
Só tu
Serás o meu uivo de pena.
Só eu serei
O teu grito
De amor.
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2 comments:
Encantador!
Negro e intenso, profundo.
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